O tempo do comércio varejista de Secos e Molhados em Santa Branca foi uma das mais memoráveis atividades em todos os tempos. Eram chamados de armazéns, onde a amizade e a confiança entre os fregueses e o titular do estabelecimento sobrepunha sobre todos itens de atendimento. Armazém de Secos e Molhados, era sinônimo do conteúdo de itens entre o sólido e o líquido, daí o popular tratamento a essas casas comerciais.
O proprietário tinha por obrigação disponibilizar tempo integral no atendimento aos fregueses. Diferentemente dos atuais supermercados, o freguês chegava e pedia o item desejado e lá ia o proprietário buscar nas prateleiras, colocando no balcão para o freguês, seguido da indagação:
– Pronto, o que mais o senhor deseja? A interação entre os personagens, freguês e proprietário teria a curta duração, ou um tempo muito maior quando eram efetuadas as famosas compras do mês, em que os chefes de família compravam mantimento para suprir a família por este período.
Para ser considerada uma boa casa comercial, diziam as pessoas da época, teria de ter disponível mercadorias desde agulhas de costura até elefante.
Posso afirmar com convicção que vivi por longo tempo trabalhando no armazém do meu pai. Armazém Moderno de Secos e Molhados. Ali meu pai tinha um enorme e variado estoque de quase tudo, desde cereais em geral, bebidas a granel, produtos agropecuários, artigos de Caça e Pesca, e até mesmo munição para armas de fogo, comércio permitido nesse tempo. A nossa pimenta do reino moída na hora na frente do freguês era a mais famosa de toda cidade, isso devido ao forte aroma apresentada. O fumo de corda era outro item muito procurado pelos amantes do cigarro de palha. Aquele burburinho entre tantos fregueses, cada um pedindo um tipo de mercadoria ao mesmo tempo mais parecia à recepção da Torre de Babel. Imaginem atender pessoas comprando tecidos, outros comprando cereais, ou ainda aqueles que chegavam para tomar um aperitivo, ou ainda outros escolhendo anzóis e linhas para os variados tipos de peixes, na época em grande quantidade no nosso Rio Paraíba do Sul. Isso exigia muita agilidade e conhecimento prático de onde estava armazenado o produto solicitado.
Armazém de Secos e Molhados, mais que eficiência no atendimento ao público tinha sua grande arma de sucesso que era a venda para pagar no final do mês. Todas as compras eram anotadas num livro chamado de Borrador, e com cópia da soma na caderneta do freguês que a carregava para casa, trazendo no fim do mês para a somatória das despesas e o posterior pagamento e a continuidade do crédito. O que valia de fato era a palavra combinada entre comerciante e freguês.
Nossa cidade contou com uma rede de excelentes casas comerciais, sendo as mais famosas: Armazém do Jose Theodoro, Armazém do Nute de Oliveira, Armazém e Loja do Antônio Turco, Armazém do Laurentino Chaves, Armazém do Nelson de Oliveira, Loja e Armazém do José Migue e Armazém Novo, foram os mais famosos na época. Esse tempo de ouro da tradição comercial começou a sentir forte impacto com o surgimento dos primeiros supermercados na região de São José dos Campos e Jacareí, chegando a Santa Branca com o primeiro estabelecimento, “Cerealista Santa Branca”. Com enorme sucesso pelo tipo diferenciado de comércio e, a enorme preferência da população, a modalidade dos supermercados chegava para fixar para sempre. A partir de então o comercio dos secos e molhados foram perdendo espaço, fechando um após outro até o fim dessa generosa época.
O último dos moicanos que resistiu bravamente foi o Armazém do Nelson de Oliveira, cujo sucessor, o amigo Hélio de Oliveira lutou bravamente enquanto resistiu a enorme concorrência, fechando as portas alguns anos mais tarde.
Fim de uma época. Encerraram-se as cortinas, findando o mais romântico de todos os espetáculos da nossa cidade: O Tempo do Comercio dos Secos e Molhados.