Ah! Se pudesse eu voltar no tempo... Ainda que por apenas um espetáculo do saudoso Circo Estrela Dalva, eu lá estivesse acompanhado dos meus pais partilhando risos, admirando a linda menina contorcionista sob a grande bola de metal azul com estrelas brilhantes.
Era bem o início dos anos cinquenta, a era romântica em que a televisão ainda engatinhava com os seus primeiros aparelhos que chegavam ao Brasil com um preço elevadíssimo, somente acessível às famílias mais abastadas financeiramente. Até então os espetáculos Circenses eram adorados pela população, dividindo tempo e espaço com os Parques de Diversões, que também se instalavam nas pequenas e médias cidades do interior.
O famoso Circo Estrela Dalva na época esteve em nossa cidade por algumas vezes com todo o seu elenco de artistas que fazia a plateia delirar com seus números de picadeiros no palco. O Circo Estrela Dalva e a nossa gente da época, se tornou mais um caso de amor, tal era a admiração e respeito pelos artistas da famosa casa de espetáculos. Dentre os famosos artistas estavam a família do Eduardo Gomes de Souza, que era o palhaço do circo. A esposa Dona Ziza Gomes, contorcionista e os filhos: Irma, Mércia, que eram as equilibristas e o menino Rubens (Keko), que fazia o palhaço “Araponga”, além das irmãs caçulas, Oris e Branca.
Cada temporada do famoso circo era sinônimo de casa lotada, na época o circo era montado no Largo do Mercado, atualmente este espaço é ocupado na quase totalidade pelo prédio do Posto de Saúde central Benedito Marcondes. Ali, naquele espaço, eram montados os circos e os parques de diversões também muito em voga na época.
Numa das últimas temporadas em nossa cidade, o Circo Estrela Dalva chegou durante o mês de fevereiro de um ano muito chuvoso e mal houve tempo para a estreia. Começou uma chuva contínua que perdurou por dias seguidos. O local na época era facilmente alagado, não permitindo as apresentações programadas. A vida circense é muito sacrificada, quando se chega numa cidade, há o tempo da montagem, o tempo da estreia e o tempo de permanência, tudo é calculado de forma a tirar a renda para os salários dos artistas, das despesas com energia, impostos, manutenção, enfim, uma sequência de compromissos que exigem apresentações condignas com o gosto popular e a reversão em renda para cobrir compromissos.
Assim, ocorreu este imprevisto da natureza impedindo as apresentações normais dos espetáculos. Foi numa dessas noites chuvosas que a população procurou o saudoso prefeito Waldemar Salgado, que ofertou o salão da Prefeitura, na época vazio, para que os artistas ali se apresentassem e assim foi feito, com a casa lotada o Circo Estrela Dalva conseguiu honrar os compromissos com seus artistas e quitar outras contas pendentes.
Numa dessas noites, um dos amigos íntimos do artista Eduardo Gomes de Souza, fez um convite para que ele e sua família ficassem residindo aqui em Santa Branca. Eduardo respondeu ao amigo: - Como ficar morando aqui com minha família? E a renda de onde eu tiro?
O amigo responde: - Olha meu amigo, eu tenho um pequeno bar ali na Rua do Prudente de Moraes e já estou velho e cansado, então pensei em você. Eu arrendo o bar e você vai me pagando aos poucos até poder comprar o prédio com estabelecimento e a casa anexa.
Eduardo pensou e ficou em dar uma resposta. Fez uma reunião com a família e resolveu aceitar a proposta, deixar a vida de artista circense e firmar o pé na cidade em que ele e a família também amavam de coração.
E assim foi feito, Seu Eduardo e sua família despediram do Circo Estrela Dalva que partiu sem parte dos artistas, com exceção da filha primogênita, Irma, que preferiu seguir em companhia do noivo, Jairo Hofacker, na época um famoso contorcionista do mesmo circo.
Terminava assim a história do Circo Estrela Dalva em Santa Branca e começava outro capitulo da família do Seu Eduardo, com o mais famoso Botequim da cidade ali na famosa Rua do Pito. Como em toda história de amor termina bem. Circo Estrela Dalva foi o início de uma bela história cujo título pode ser: “Luzes da Ribalta Um caso de Amor”.
Minhas sinceras homenagens a esta família maravilhosa que faz parte da nossa histórica evolução cultural: Ao velho Eduardo e sua esposa Dona Ziza! A amiga Irma Hofaker, os filhos Paulinho e Rosangela e os netos. A minha particular amiga Mércia Gomes, aos seus filhos José Antônio, Maria do Carmo, Mercinha e netos. A nossa amiga Ivone Sousa, viúva do saudoso amigo Rubens Gomes (Keko), as suas filhas: Erika, Egle, Elaine e os netos, a amiga Oris e seu filho professor, Branca Gomes seus filhos e netos, os frutos dessa benigna árvore genealógica aqui plantada por força Divina!