No interior se lembra das ruas pelas casas das pessoas conhecidas que ali moram. Quando se pergunta a alguém onde é rua tal, logo se responde com outra pergunta: Mas, casa de quem você está procurando?
Se fizermos um passeio pelas ruas da nossa infância, constataremos que muitos dos moradores das casas que fizeram a nossa história, já não estão mais entre nós. Algumas casas nos lembram cheiros, outras nos trazem músicas à memória e outras tantas das tardes de brincadeiras nos quintais. Possivelmente, gostaríamos de manter para sempre determinados moradores, parte das nossas memórias e experiências de vida.
Sendo impossível manter para sempre os moradores, era de se esperar que ao menos, preservássemos essas casas com seus novos moradores.
Mas, nós brasileiros adoramos ter memória curta e quando se trata do patrimônio histórico, pior ainda. Mete-se a retroescavadeira nas praças, nos casarões e nos monumentos. Mete-se ao chão palmeiras imperiais que levaram cinquenta anos para se elevar ao céu. Arrebenta-se a história de um povo como quem quebra um pedaço de pedra qualquer.
Quando se destrói uma casa com história, mata-se ali muito mais do que um simples imóvel, mata-se um capítulo da história do lugar. A alma imediatista de alguns infelizes que nos governam cai como gafanhoto sobre as frágeis folhas da história de um lugar. São almas imediatistas que fazem questão de deixar um Brasil mais feio para os brasileiros que virão.
Transfiguram as igrejas antigas adequando-as a um gosto duvidoso e passageiro. Apaga-se uma história que no passado um grupo de pessoas ergueu com tanto carinho e trabalho.
Mete-se cimento nas taipas, lajotas brilhantes onde havia ladrilhos históricos, adulteram-se fachadas com janelas bonitas e ali, colocam coisas de lata que destoam totalmente.
No Brasil não há um respeito pela cultura das coisas, quase nada se preserva e muita coisa muda por capricho de alguns cegos que nada deixarão de bom ao futuro, além de seus disparates e equívocos.
Neste texto faço um apelo aos homens do “poder”, seja ele qual for, que tenham um pouco mais de bom senso ao permitir que se desfigure uma casa que conte histórias, ou até mesmo que pense em alternativas diante da iminência de perder um patrimônio histórico em favor de uma modernidade. Que possamos pensar na beleza arquitetônica de nossas cidades e, acima de tudo, se estamos contribuindo para que as futuras gerações recebam um mundo mais feio e sem história ou um mundo com casas e histórias, como foram as cidades de nossa infância.