Euclides da Cunha é um escritor memorável na literatura. A obra “Os Sertões”, presenteou a ele, uma cadeira cativa na Academia Brasileira de Letras. Afinal de contas, o livro dividido nos capítulos “A terra”, “O homem” e “A luta”, descrevem minuciosamente o ambiente da Revolta de Canudos, em pleno o sertão baiano nos anos de 1986 e 1987. No qual, no papel de jornalista e testemunha ocular dos fatos, Euclides foi enviado especial do jornal o Estado de São Paulo para acompanhar o movimento rebelde chefiado por Antônio Conselheiro.
O homem das letras era também engenheiro da superintendência de obras públicas do estado de São Paulo. E, em 1902, em meio à revisão final de sua obra prima, Euclides passou uma época no Vale do Paraíba, mais precisamente, na interiorana Santa Branca, construindo um monumental patrimônio histórico municipal, estadual e federal: a Ponte Metálica. “As pessoas não entendiam na época que quando ele não estava na obra, ele estava com os papeis até altas horas da madrugada à luz de lampião revisando Os Sertões”, conta Sarkis Ramos Alwan, historiador da cidade.
Os documentos do acervo municipal de Santa Branca, contam que a travessia do Rio do Paraíba e a ligação até o município de Jacareí, foram uns dos grandes desafios enfrentados pela população local, desde o início da ocupação do território, no século XVII. Assim, a partir da lei estatal de n°337, foi autorizada a construção de uma ponte metálica sobre a estrutura de pedra e aço que ligava o município de Santa Branca ao de Jacareí, que foi inaugurada no dia 15 de novembro de 1902.
A Ponte Metálica foi a ligação dos santabranquenses até 1983, quando foi construída ao lado, uma ponte de concreto, que hoje, é atual estrada da cidade, situada na rodovia Nilo Máximo, a 4 km da sede municipal. Marília Melleiro Lopes de Campos relembra que a construção da ponte de concreto facilitou o cotidiano dos munícipes. “Quando foi construída a ponte de concreto, sentimos um sentimento de progresso. Nós sabíamos que a partir de então, melhoraria locomoção para Jacareí. Ao passar pela ponte, era um veículo de cada vez, as tábuas faziam muito barulho e como eu tinha acabado de tirar a carta de motorista, morria de medo de escorregar”, relembra a aposentada.
Devido aos anos, a Ponte Metálica foi cultivando um péssimo estado de conservação dado ao total abandono dos órgãos competentes estaduais. Há ofícios de 1985 a 2003, solicitando ao Estado e ao DER – Departamento de Estradas e Rodagem de São Paulo, parcerias com empresas privadas para a restauração e conservação. Em 1998, o IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos chegou até a pedir o tombamento da ponte devido ao estado de descaso. Porém, tanto para a conservação ou para o tombamento, não houve retorno. “Tanto a sociedade civil como as autoridades constituídas dos dois municípios de Santa Branca e Jacareí vem reivindicando ao longo de décadas a manutenção da ponte. Mas, não consegue achar eco a essa reivindicação e a ponte está cada vez mais se decaindo. A questão de preservação do patrimônio ainda está muito longe no nosso país”, afirma o historiador Sarkis.
Em outubro de 2015, o Conselho de Turismo de Santa Branca (COMTUR), enviou um projeto de restauração da Ponte Metálica para a Secretaria Estadual de Turismo do Estado de São Paulo. Nesse projeto, os conselheiros expuseram a situação do patrimônio e solicitaram medidas urgentes de reconstrução. Segundo o presidente do COMTUR, Edson Lemes de Sousa, a resposta à solicitação foi que, o projeto está em avaliação e será dado um retorno da Secretaria Estadual de Turismo até o fim do primeiro semestre deste ano.
Hoje, a Ponte Metálica mesmo com as visíveis marcas do descuido, continua a enfeitar o cenário daqueles que a observam e ressuscita lembranças dos que desfrutaram a utilidade desse rico patrimônio histórico. “É lamentável que uma ponte que serviu tantos anos para a cidade e que foi construída por um ilustre engenheiro com grande passagem significativa no país, tenha caído no descaso”, comenta Sarkis com ar nostálgico. O historiador torce por uma futura preservação da Ponte Metálica e reconhece a importância do patrimônio. “A preservação desse patrimônio histórico seria importante não só para a memória concreta do município. Mas, ajudaria no turismo de Santa Branca levando aos seus visitantes a história e cultura de nossa cidade”, finaliza.
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