O que é afinal uma foto? No meu entender é um registro de um breve momento único sem direito a retorno. A imagem que ali aparece pode ser imitada com o mesmo cenário, os personagens e figurinos. Porém o registro é único, original e fica para a posteridade, desde os primórdios tempos das fotografias, que exigiam um contexto de conhecimentos mínimos para manusear uma câmera fotográfica, fosse amador ou profissional.
Até algumas dezenas de anos passados, era comum a gente se dirigir a uma loja especializada para adquirir um rolinho de filme de doze, vinte quatro ou trinta e seis dispositivos para captação de fotos. Havia o cuidado especial ao colocar o filme na câmera e o mesmo cuidado ao retirá-lo após a utilização. Depois, a viagem de volta a loja para que se procedesse a revelação das fotos em tamanho reduzido e mais tarde o retorno com os negativos para a ampliação no tamanho desejado, um roteiro digno dos amantes da fotografia ou dos profissionais do ramo.
Aqui em Santa Branca o pioneiro profissional da fotografia foi o ilustre “João da Silva Abreu”, funcionário público municipal, que tinha um amor à arte fotográfica. Ele adquiriu os conhecimentos técnicos da difícil arte nesse tempo remoto da tecnologia rudimentar, porém de uma produção impecável, que exigia muito conhecimento para obtenção de imagens de boa qualidade.
Com a aposentadoria como funcionário público, João da Silva como era popularmente conhecido, passou a dedicar o tempo integral à arte que ele tanto amou. Montou um belo estúdio fotográfico numa das salas da sua residência ali na Rua José Bonifácio, prédio que aliás está muito bem preservado mantendo todas as características originais. Era uma sala ampla, que continha uma câmera central com tripé com a qual ele fazia desde as fotos com tamanho 3X4 para documentos, até as mais sofisticadas e memoráveis, como cenas dos noivos recém-casados, aniversariantes e fotos das famílias reunidas no estúdio.
Os cuidados para obtenção de boas fotos eram características desse profissional perfeccionista. Quando das fotos para documentos a pessoa sentava na cadeira com um paletó e gravata, ali seu João acertava o ângulo da câmera, observava, voltava para a pessoa, ajeitava o rosto em posição ereta e voltava a câmera, se a pessoa mexia com o rosto era alertada, lá voltava ele para acertar o foco do rosto novamente, até que finalmente batia as fotos e pedia para a pessoa buscar no outro dia.
O ritual das memoráveis fotos antigas era quase que um ritual sagrado, porém de uma qualidade impar mesmo comparada com as modernas câmeras da atualidade.
Havia alguns aspectos dessas fotos denominadas profissionais que eram momentâneas de pouca duração, como por exemplo, as fotografias produzidas pelos famosos fotógrafos apelidados de “Lambe – Lambe”. Quem é da época pode lembrar muito bem daqueles fotógrafos que ficavam com suas máquinas em formatos de caixotes de madeira montadas ali na Praça da Basílica Velha, na cidade de Aparecida. Era uma rotina constante das famílias que se ajeitavam bem para uma pose dessas fotos que iriam guardar como recordação para o resto de suas vidas, porém a maioria não contava com a situação dessas fotos meio fantasmas, com o tempo as imagens iam sumindo a ponto de se tornar apenas um papel em branco.
Os fotógrafos lambe - lambe eram profissionais, populares e intuitivos, que desenvolviam suas atividades profissionais em praças e jardins públicos do Brasil. Até poucos anos atrás, era muito comum encontrá-los, encapuzados e quase fundidos à caixotes sobres tripés.
A criatividade dos nossos fotógrafos de jardim, aliada à aguçada sensibilidade tátil, era o ponto de partida para o desenvolvimento do ofício. Qualquer um deles orgulhava-se em dizer a marca da lente que usava. Era a essência do negócio... Desde então, a evolução da tecnologia fotográfica nunca antes imaginadas, como exemplo a de corpos celestes do imenso Universo. Onde teve um avanço considerado a velocidade luz! Atualmente as fotos são possíveis a partir dos simples aparelhos de telefones celulares. Como serão as mais sofisticadas câmeras com poder de captação de cenas? Somente o futuro dirá.
Veja também:
"No tempo dos armazéns de secos e molhados"