O primeiro comércio a céu aberto da cidade tem 152 anos de contribuição histórica e social no município
Para muitos, sábado é sinônimo de descanso e lazer. Para outros, é um dia comum de trabalho. Em Santa Branca, cidade do interior paulista, sábado é dia de feira.
Segundo o historiador da cidade, Sarkis Alwan Ramos, a feira livre surgiu em 1862. No início, o antigo mercado da cidade cedeu um galpão, conhecido como pátio do mercado, para a realização das feiras livres aos finais de semana. Na época, além dos produtos alimentícios, era comum a comercialização de galinhas, patos e outras aves, ainda vivos, devido à tradição de predominância rural. Era o início da cidade, então, a maioria dos clientes era de munícipes da zona rural que vinha uma vez na semana para realizar as compras.
O espaço era aberto e sujeito às mudanças climáticas, onde os feirantes trabalhavam sem proteção ao sol ou chuva. Por isso, em 1928 foi construído um novo mercado com uma área coberta para abrigar os trabalhadores da feira livre. O espaço era maior, permitindo fluidez e melhores condições de trabalho para os feirantes da cidade.
Não consta em nenhum documento a data exata, mas com o desenvolvimento do município, a feira livre saiu do mercado e foi para a Rua Manoel Nunes de Souza, a conhecida “rua da feira”.
O comércio mudou em 2011 para o bairro conhecido como Praça do Rosário com o intuito de melhorar o espaço. No entanto, no final do mesmo ano, a Prefeitura decidiu voltar para a “rua da feira”, onde a feira livre é tradicionalmente realizada até hoje, aos sábados, das 6h às 13h.
Tradição
José Augusto de Oliveira, fiscal da feira livre do município há 16 anos, conta que o ambiente passou por mudanças significativas. “A maioria dos feirantes está desde o início, por isso eles sentem que ao longo dos anos o movimento diminuiu. Mas, isso é bem relativo. É como se fosse duas feiras fracas e uma lucrativa. Em Santa Branca, os supermercados, não afetaram o comércio. O munícipe ainda prefere esperar o sábado e obter os produtos frescos e confiáveis.”, relata José Augusto.
De acordo com o fiscal que chega ao local da feira todos os sábados às 3h30 da manhã para colocar o cavalete de desvio do trânsito, atualmente, são 28 barracas e aproximadamente, 112 feirantes. Para se registrar na feira livre, é necessário realizar um protocolo na prefeitura e pagar uma taxa mensal de acordo com a variação do metro quadrado da barraca. Atualmente, não existe nenhuma política no município que discuta benefícios à feira e aos feirantes. E, o único lucro que a prefeitura retira é o valor mensal das barracas. O que é vendido é exclusivo do feirante.
A feira tem barracas com diferenciados produtos, entre eles estão a barraca do pastel, tradicional na maioria das feiras livres brasileiras, bancas de frutas das mais diversas, verduras e legumes, utensílios domésticos, brinquedos e barraca de flores.
Para Sarkis, o historiador, a feira livre é uma tradição cultural no município, que não deve ser perdida, e resgatar seus hábitos e vivências são processos essenciais para a valorização histórica da cidade. “Antigamente, os hábitos eram outros. Eu lembro quando eu era pequeno e via o pessoal passar com galinhas vivas dentro das gaiolas, eu achava interessante levarmos aquilo vivo pra casa. Hoje, isso é atípico, as pessoas se assustam. Claro que os tempos mudaram e é necessário mais cuidado com certos produtos, hoje a maioria vem de fora. O importante é que as pessoas não percam o hábito de ir à feira”, afirma.
Grande parte do acervo municipal histórico da cidade está guardado na casa de Sarkis, que se tornou figura cultural do município.
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